
Andou
Deitou-se na cama. Iria dormir, é claro. Dormir sempre funcionava... ficar naquele estado de inconsciência, a salvo de tudo que a afligia, sem ter que pensar.
Bufou ante a idéia idiota. Como ela conseguiria simplesmente dormir naquele estado?
Sentou-se. Olhou pro teto.
Por que nem as lágrimas vinham?
Nem mesmo elas, sempre companheiras, tinham a dignidade de lhe fazer companhia naquele momento.
Ao seu redor tudo era um borrão de cores, texturas e sentimentos, onde a realidade se misturava com o sonho e a decepção. Sozinha em casa, oras sempre sozinha, ela se martirizava pelos erros e desculpas, pelas palavras não ditas e pelos corações quebrados.
Um volume estranho subia em sua garganta e parava bem no meio: resultado de tudo que ela queria por pra fora e não o fazia.
Os lábios, sempre tão dispostos a falar, agora não funcionavam. Mas também não haveria o porquê funcionar.
Por que vocalizar coisas que ninguém queria ouvir?
Por que gastar palavras quando não havia sequer um conduto auditivo para captá-las, leva-las a um cérebro e interpreta-las?
Estava só em sua angustia.
Foi quando o viu olhando-a. Insinuando-se. Sugerindo.
Uma ponta de esperança surgiu em sua mente. Será que.....?
Sim. Ali havia de encontrar algum consolo.
Pegou-o. Pegou o caderno velho, a capa preta, páginas cheias. Abriu-o.
Folheou vendo a caligrafia conhecida: sua caligrafia. Mais forte, mais fraca, mais floreada ou corrida, dependendo do humor e da disponibilidade de tempo com que foram escritas.
Puxou a caneta. Um suspiro foi o primeiro sinal de que tudo daria certo.
Escreveu. Suspirou, escreveu, trabalhou por algum tempo, colocando para fora tudo que lhe doía.
E o papel aceitava, confortava, acalentava aquele desespero a medida que recebia sem reclamar todas aquelas reclamações.
Por momentos febris se manteve ali, confidenciando com o velho amigo. Até que sentiu-se tão leve, tão totalmente desabafada que caiu exausta na cama.
Escrever não era só uma arte. Era, muitas vezes, salvação.
Depois de tudo, até o sono a visitou. Dormiu sobre as páginas amareladas do velho caderno, que lhe sorriam calmamente.
Um comentário:
gostei do texto...
muitas vezes nao precisamos de pessoas para desabafarmos, basta um refugio, escrever, pintar, compor, nao importa a maneira, na verdade nda importa, soh o fato de nos sentirmos bem, bem com o q fazemos...
parabens tu escreves muito bem...
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