Please lie to me.

Dois passos no escuro em direção a ofuscante massa vermelha sem nunca saber que vermelho poderia ter tantos tons assim. Como o som não se propaga no espaço lá também não existem melodias afagando seus ouvidos.
Mas você consegue sentir.
Tão nitidamente como um machado a cortar seu corpo, como vibrações no vidro de um aquário atormentando os sentidos do peixe que se esconde em suas águas. As ondas atravessam seu corpo e você não diz nada, talvez somente um "Oh" sussurrado. Supérfluas todas as palavras diante do destino incerto que as pobres tem.
Tudo faz parte de um mundo paralelo, hostil a sua forma de vida e você se pega pensando como foi parar ali.
As frases aprendidas nos velhos romances são vazias de significado, truques sedutores - coitados - tão úteis quanto conversa de botequim.
Os raios vermelhos te despem de qualquer disfarce forçando a verdade que, sem resistência, escorre de seus olhos como duas grossas lágrimas.
Dois passos no escuro e deu-se a perdição.
Nua, jogada no chão, com frio e envergonhada enquanto a explosão de mistérios zomba de ti.
Inexorável deus imortal zombando de mortal decadência.
E nos últimos minutos de agonia descobres que deverias, no fim, dizer: Please lie to me.