terça-feira, outubro 21, 2008

Ver o amor pela janela



Vincent se debruçou na janela, tampando parcialmente os olhos com uma das mãos, para se livrar da claridade excessiva da tarde de verão. Estava um dia enjoativamente bonito, excessivamente ensolarado e absurdamente quente (ou pelo menos mais quente do que ele considerava suportável). No jardim da casa seus pais conversavam.

Tinha recusado mil e um convites de ambos para ficar com eles embaixo da grande árvore que ficava, imponente, no meio do jardim. Era sol demais para sua pele muito alva, herdada da mãe.

Observou os dois, vendo os detalhes: os olhos expressivos do pai, o nariz fino e bonito, o jeito displicente de usar os cabelos sempre mais longos do que devia, a pele morena, a postura calculadamente desleixada. A mãe tinha um ar mais sério que ele, apesar dos anos a menos que carregava. Os cabelos longos e negros sempre amarrados desordenadamente, mas acabavam dando um ar "moderno" a ela. Os olhos tinham uma absurda cor prateada, quase como se não fossem humanos.

Vincent tinha os cabelos negros da mãe, os olhos expressivos do pai. E uma mente inquieta e criativa.

Olhando os dois no jardim, se perguntava como podiam estar juntos até hoje, mesmo com todas as briguinhas e ladainhas de todo dia. Ele sempre tão popular e charmoso, ela sempre tão reservada e quieta.

Mas não se largavam, como se uma corda invisível e sempre desejada os mantivesse juntos o tempo todo.

Naquele momento discutiam sobre cinema enquanto ela rabiscava desenhos num bloco pardo e ele dedilhava qualquer coisa na guitarra que era um grande passa-tempo.

Vincent, com toda experiência adquirida no auge dos seus 10 anos de idade, não entendia basicamente nada de relacionamentos e amor a não ser quando envolvia a sua família e (quem sabe, talvez, assim bem um pouquinho) aquela vizinha mais velha que ele não tinha a menor coragem de sequer puxar papo.

Mas ele sabia que existia algo. Algo de tão sobrenatural e forte entre os dois que fazia tudo sempre ficar bem.

Ele achava gostoso sentir aquilo, como se refletisse nele e o protegesse.

Ele gostava de ver o jeito que eles encaixavam as suas mãos enquanto caminhavam juntos, e o jeito que um completava sempre corretamente a frase que o outro queria dizer e não se lembrava.

E Vincent pensava se todos eram assim. E imaginava se um dia aquilo teria fim. E teorizava se um dia ele gostaria de alguém assim.

A mãe olha para o menino na janela, acena e manda um beijo.

Vincent acena de volta.

E conclui que o melhor, naquele momento, era simplesmente viver mais aquela calma, exageradamente quente e absurdamente linda tarde de verão.



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A visão inocente do amor. Como eu sinto falta disso.

Conto baseado em pessoas reais e outras nem tão reais assim, mas que formariam uma bela família.

(Johnny, Sammy e Vincent)

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